Há livros que conseguem
emitir uma sensibilidade demasiadamente incrível. Apresentam-se ao leitor de
forma sutil, aparentemente previsível, mas que, de maneira singela, mostram-se
incríveis e surpreendem; surpreendem muito mesmo por se mostrarem leituras completamente
únicas e humanas. “Dois Garotos se Beijando” chegou até mim de forma bastante
inesperada e no momento certo. Sem esquecer que se mostrou uma leitura
totalmente incrível e que me modificou. Você entenderá o que digo mais à
frente.
Editora: Galera Record
ISBN: 9788501102096
Ano: 2015
Páginas: 224
ISBN: 9788501102096
Ano: 2015
Páginas: 224
Nota: (5/5 - FAVORITO ❤)
Dois Garotos se Beijando - Baseado em fatos reais e em parte narrado por uma geração que morreu em decorrência da Aids, o livro segue os passos de Harry e Craig, dois jovens de 17 anos que estão prestes a participar de um desafio: 32 horas se beijando para figurar no Livro dos Recordes. Enquanto tentam cumprir sua meta — e quebrar alguns tabus —, os dois chamam a atenção de outros jovens que também precisam lidar com questões universais como amor, identidade e a sensação de pertencer.
Há dois aspectos na
estrutura do livro que chamam atenção por sua, até então, peculiaridade. A
história não tem um único narrador. São vários. No entanto, a narrativa
acontece sob um sujeito coletivo na terceira pessoa do plural. E quem são essas
pessoas narradoras? Não se sabe ao certo. O único conhecimento a respeito deles
é que são gays que morreram de AIDS. E não há capítulos. A história flui sem
aparentes “interrupções”, apenas é dividida por parágrafos.
Sendo assim, de forma
demasiadamente sensível e palpável, o leitor conhece personagens marcantes e
humanas; personagens que podem ser seu melhor amigo, vizinho, primo, qualquer
pessoa conhecida ou próxima a você. São humanas. São pessoas que carregam
intrinsecamente defeitos e qualidades tão comuns e que jamais podem ou devem
ser consideradas estranhas ou aberrações.
São oito personagens.
Obviamente todos são gays. Tariq, Harry, Craig, Neil, Peter, Avery, Ryan e Cooper. Cada
qual está lidando com a questão pessoal da aceitação perante a sociedade e a eles
mesmos.
Tariq é sexualmente muito
bem resolvido. Tudo muda quando, numa determinada noite, ele é espancado por um
grupo de jovens homofóbicos. Ele passa a viver de forma temente; temente a
qualquer outro tipo de violência que possa vir a acontecer consigo; não é mais
o mesmo.
Harry conhece Tariq no hospital após ficar sabendo do
ato violento. Ele sente uma indignação absurda com todo o ocorrido. E como
sempre foi fascinado pelo livro dos recordes, decide arriscar-se e quer dar o
beijo mais duradouro da história. Para que isso aconteça, pede ajuda a Tariq e convoca seu melhor amigo e
atual ex-namorado, Craig, para que o
recorde possa acontecer.
Peter e Neil são namorados. Peter é bem assumido e resolvido. E
também tem total apoio e amor da sua família. Entretanto, Neil não vive essa mesma realidade; seus pais sabem que ele é gay,
mas tratam a sexualidade como um tabu, algo pouco relevante e que não mereça
atenção. E cada vez mais ele se torna um ser afligido. A única pessoa que o
compreende sem esforço algum é o Peter.
Avery é transexual. Nasceu
menino num corpo de menina. Por sorte, seus pais sempre notaram sua
particularidade e o apoiaram; sempre o levaram para fazer tratamentos com
hormônios e cirurgias. Numa festa gay, ele conhece Ryan. A atração entre ambos é irrefreável. Algo muito bom passa a
acontecer entre eles, mas o medo domina Avery.
Será que Ryan o aceitará? A verdade,
mais do que nunca, é sempre bem-vinda, e Avery
precisa agir com sensatez o quanto antes para que tudo não desmorone.
Cooper
tem apenas dezessete anos e não é assumido. Durante todas as madrugadas, ele
conversa com vários outros caras em sites de relacionamento gay. Na verdade,
ele atua em cada conversa com cada homem que o chama para conversar. Ele se
sente desejado com isso, sente-se poderoso, acima de tudo. Inesperadamente, ele
adormece em uma determinada noite. O computador fica ligado. Seus pais entram
em seu quarto e descobrem tudo. Cooper
apanha do seu pai e foge de casa. A partir daí, ele passa a vagar pelas ruas da
cidade indagando sobre si e sobre o quão desafortunada é a sua vida.
“Nós nos vemos como criaturas marcadas por uma inteligência particular. Mas uma de nossas características mais específicas é a incapacidade de nossa expectativa simular verdadeiramente a experiência que esperamos. Nossa expectativa de alegria nunca é o mesmo do que alegria. Nossa expectativa de dor nunca é o mesmo que dor. Nossa expectativa de desafio não é nem um pouco como a experiência do desafio em si. Se pudéssemos sentir as coisas que tememos antes da hora, ficaríamos traumatizados. Assim, nós nos arriscamos pensando que sabemos como as coisas serão, mas não sabemos nada sobre a verdadeira sensação de cada coisa.”
página 137
É possível desenvolver de
forma incrível a história de oito personagens em um livro aparentemente curto?
Sim, é. E o David Levithan conseguiu
tal feitio de maneira agradabilíssima! Cada um desses jovens mencionados acima
possuem um pouco de mim, senão tudo. São pessoas frágeis, porém destemidas,
fortes, que lutam dia após dia por algo que é direito de todos: aceitação. Não
aceitar o outro por ser quem realmente é não pode ser considerado algo
aceitável. E não é. É um dos piores tipos de violência. E isso fica bem
explícito em todo o livro. Eles praticam uma luta diária em casa, nas ruas, na
vida.
Cada história é narrada com
uma sensibilidade única. Nada aqui soa irreal ou ficcional (mesmo sendo
ficcional). Como falei anteriormente, tudo é muito palpável, verossímil. É
difícil não sofrer com cada personagem, torcer para alcançarem suas conquistas
e querer confortá-las quando precisam. A ideia de que vivemos em uma sociedade
onde cada um pode ser quem é e há o direito de liberdade para todos ainda é
considerada uma utopia para mim. Muito ainda precisa ser feito e conquistado por
todo o grupo LGBT para que possua direitos e deveres iguais a todas as demais
pessoas. Todos somos seres humanos e isso fica bem claro em toda a leitura.
Transexuais, travestis, gays, lésbicas, enfim, todo o grupo das relações
homoafetivas NÃO PODE e NÃO DEVE ser considerado estorvos da sociedade,
aberrações ou qualquer outra coisa desmoralizante. O que deve ser levado em
consideração sempre é o fato de que somos todos iguais, todos somos humanos, e
merecemos praticar o respeito e a aceitação para com o próximo sempre.
Eu chorei, ri, me diverti,
acreditei em cada sonho que possuíam, sofri com cada ato de pura violência
cometido, mas acima de tudo, eu vivi cada personagem de forma paralela, viva e
intrínseca. Poucos autores conseguem me fazer sentir de tal forma, mas o Levithan consegue facilmente. E devido a
isso sempre terá minha admiração, gratidão e aplausos.
Concluir a leitura foi o
mais difícil; foi como uma partida dolorosa, sabe? Eu queria viver mais
momentos com cada uma das personagens; queria poder ajudá-las mais; eu as
compreendi inteiramente, o tempo todo. Portanto, a história em si, ainda
continua bastante viva comigo e acredito que continuará por muitos e muitos
dias. A busca por um mundo igualitário deve ser constante e o ato de amar o
próximo com suas diferenças deve ser contínuo. Mude, mude para melhor e abrace
as diferenças.
RECOMENDO!
Oi Leandro, eu já li dois livros do Levithan, e cara que escritor foda! O mais recente que li dele foi garota encontra garoto, um livro incrível e caso você não tenha lido ainda eu super recomendo! Dois garotos se beijando já está na lista de desejados com certeza!
ResponderExcluirAbraços!
http://joandersonoliveira.blogspot.com.br/
Eu li sim, Joanderson! Gostei muito também. Mas "Dois Garotos se Beijando" supera e muito todos os livros do Levithan que li. <3
ExcluirOii Le, tudo bem???? Fiquei um pouco confusa :P
ResponderExcluirQuem morreu de AIDS? Os personagens ou os narradores?
Não sei se eu concordo muito com isso, pois acho que pode passar a ideia de que se é gay, é soro positivo. E eu não gosto desse ideia, pois uma coisa não tem relação com a outra.
Mas eu não li o livro, então posso estar viajando total sem entender :P
Particularmente, eu gosto mais de histórias em que os gays são retratados normalmente, sem ter algo de "especial-estranho". Você já leu a Garota da Casa Grande? Adorei aquele livro, pois o romance acontece da mesma forma que acontecem os romances heteros. Não é essa coisa de ser gay sabe? É só ser humano, ser apaixonado, ser casal.
Ok, talvez eu tenha um pensamento meio utópico. Mas acho que quando você trata um livro com o foco só nos casais gays, você acaba afastando pessoas preconceituosas. Pessoas homofóbicas ou com tendências para tal, jamais lerão um livro desses. Mas se não souberem e verem uma história normal, talvez consigam enxergar que não há diferença alguma.
Acho que ficou confuso né? Mas enfim :3
Um beijão
http://profissao-escritor.blogspot.com.br/
Os narradores, Gih. É que eles morreram em outra época, e não na atual. E quando adquiriram a doença foi justamente no período onde não havia prevenção. E detalhe que o leitor não conhece nenhum deles. Você não sabe os nomes deles, idade, nada! Mas eles narram as situações de cada personagens no cenário atual e nenhuma delas é soro positivo. Assim como você, também detesto essa fixação de que gay é sinônimo de soro positivo. Isso é muito retrogrado e ignorante.
ExcluirEntendeu agora? ;p
Agora sim. Obrigada por explicar =D
ExcluirBeijooos
Eu li todo dia e amei a forma como ele conduziu a história. Eu quero ler esse livro, todos dele alias, mas vou esperar um pouco para ler. Geralmente eu me decepciono com livros que estão sendo muito comentados, então vou deixar as expectativas baixarem.
ResponderExcluirBlog Prefácio
Olá!
ResponderExcluirGente, todos os dias eu vejo alguma resenha mega positiva para esse autor, tô com Garoto encontra Garoto, mas ainda não li.
Minha curiosidade em ler o livro partiu do booktrailer da Record que foi incrivel.
Achei muito interessante 8 personagens narrarem a história! Acho que esse é um tema muito delicado que precisa ser bem abordado e parece que o autor soube fazer isso com maestria.
Sua resenha está emocionante, parabéns!
Beijinhos,
www.entrechocolatesemusicas.com
Oi Leandro,
ResponderExcluirCertamente uma leitura que vou chorar, fiquei meio mexida até lendo a resenha.
Uma pena que as pessoas de mente fechada vão ignorar algo com uma mensagem bacana, como esse livro. Viva o respeito gente!
Resenha linda!
bjs e tenha uma linda terça!
Nana - Obsession Valley
Olá Leandro,
ResponderExcluirNão li nada d autor ainda, mas só leio críticas positivas dos seus livros e esse não é diferente, que bom que gostou....abraço.
devoradordeletras.blogspot.com.br
Oie Le =)
ResponderExcluirAinda não li nada do autor, mas de tanto ler resenhas positivas das obras dele estou com o e-book de Todo Dia separado para ler.
Ótima resenha!
Beijos;***
Ane Reis.
mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
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