sábado, 30 de julho de 2016

[RESENHA] Apenas um Garoto - Bill Konigsberg

Eu realmente adoraria iniciar esta resenha aos gritos. Sim, gritando para todo mundo o seguinte: “Leiam este livro!!!” Eu não sei ao certo como organizar meus pensamentos, opiniões e comentários sobre a história de “Apenas um Garoto”, mas preciso fazer isso, inevitavelmente. Eu iniciei a leitura crendo que iria gostar, somente. Porém, tudo foi muito além. Há livros que realmente são escritos com o intuito de promover reflexão e expor uma realidade, até então, “invisível”, e conseguem isso com êxito, sem soarem incoerentes ou desnecessários. O trajeto do protagonista é, na verdade, a busca para a aceitação da sua identidade e também a ânsia em quebrar rótulos que nos estigmatizam dia após dia.

Edição: 1
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580415896
Ano: 2016
Páginas: 256
Nota: (5/5 - FAVORITO )
Rafe saiu do armário aos 13 anos e nunca sofreu bullying. Mas está cansado de ser rotulado como o garoto gay, o porta-voz de uma causa. Por isso ele decide entrar numa escola só para meninos em outro estado e manter sua orientação sexual em segredo: não com o objetivo de voltar para o armário e sim para nascer de novo, como uma folha em branco. O plano funciona no início, e ele chega até a fazer parte do grupo dos atletas e do time de futebol. Mas as coisas se complicam quando ele percebe que está se apaixonando por um de seus novos amigos héteros.
Rafe é assumidamente gay (Yaaas) desde os treze anos de idade. Nunca sofreu preconceito ou algum tipo de pressão dos seus familiares, parentes e amigos. Seus pais, inclusive, demonstram total apoio e afeto no dia a dia. Porém, o que ele não suporta mais é ser apenas reconhecido como o-garoto-assumidamente-gay. Então, devido a isso, decide estudar na Natick (uma escola onde só garotos estudam) e omitir sua orientação sexual, sendo assim, uma “nova pessoa”.

O que Rafe não imaginava é que, a partir do momento em que assumisse, de certo modo, uma nova personalidade, mudanças também aconteceriam e consequências viriam. Ele entra para o time de futebol, faz novas amizades e o pior de tudo: apaixona-se por um amigo heterossexual.

"[...] Eu gostava de ser parte do time de futebol, mas preciso admitir que preferia mil coisas a essa parte, quando falávamos de mulheres como se fossem apenas objetos. Tentei imaginar como seria se ser homossexual fosse a regra e todos fôssemos gays. Será que também trataríamos homens como objetos?"
Pág.: 122

Creio que o principal intuito deste livro é promover uma reflexão sobre determinados comportamentos sociais que, a meu ver, soam muito mais como um câncer na sociedade. Não sei se você é heterossexual, gay, lésbica, bissexual, transgênero etc. E tampouco me importa. Agora imagine você (caso não seja) sendo gay e só ser reconhecido como gay. Exemplo: “Fulaninho que é amigo de sicrano e é gay blá blá blá...” É chato! Eu falo com propriedade porque vivo tal realidade e a critica não é porque acho frustrante ser homossexual; na verdade, a melhor coisa que me ocorreu foi ter nascido gay. Eu me reconheço como tal e percebo que faz parte da minha identidade, mas tal característica não deve ser A Determinante da minha figura como sujeito social, entende?

Rafe é um protagonista incrível. O autor construiu um personagem que pode, fácil e automaticamente, ser confundido com qualquer pessoa do seu, do meu, do nosso dia a dia. Incrível, né? Pois bem, é assim que ele se apresenta ao leitor e é possível viver toda a montanha-russa de emoções que o acomete com as mudanças que buscou para si. É notável como o fato de só ser reconhecido como gay e bem menos como o Rafe, incomoda-o. Por vezes é sufocante e ele demonstra isso. Ele não é perfeito e nem pretende ser, só quer que as pessoas o vejam como realmente é, o verdadeiro Rafe. Creio que muitas pessoas da comunidade LGBT buscam o mesmo, e isso me inclui também. É como se o seu eu fosse anulado e substituído por sua característica sexual (se é que posso chamar assim), tornando-a determinante em tudo.

O romance é um dos aspectos mais interessantes da história. Não é o foco, mas é o que determina o rumo de muitas coisas. Não vou revelar a pessoa por quem o protagonista se encanta e se apaixona (confesso que vivi o mesmo juntamente com o Rafe) porque seria cruel da minha parte, mas a forma como a interação entre eles acontece é muito sincera, palpável e nem tão clichê assim. Em muitos momentos, peguei-me preocupado e indagando sobre qual seria o rumo daquele envolvimento e se realmente daria certo ou não. De antemão, mesmo considerando muito bonitinha toda a parte amorosa da história, adianto-lhe que não se iluda e espere algo mais “pés no chão”.

Temas como o real significado de tolerância e preconceito são comentados, criticados e até debatidos durante todo o livro, eu diria; em alguns momentos, de forma indireta, em outros, de forma bem crua, não tendo como intuito velar nada. O que mais me surpreendeu foi a forma inteligente e sincera como o autor abordou tudo o que pretendia mesmo se tratando de um enredo juvenil. A história em si é muito honesta. Eu amo romances gays cheios de clichês e que me deixam todo encantado ao concluir a leitura, mas creio que precisamos de histórias mais palpáveis sobre o universo LGBT de modo geral. A realidade é bem difícil, dura mesmo. Eu tive uma boa aceitação por parte dos meus familiares e amigos assim como o Rafe (acredito que a identificação principal tenha surgido disso), mas nem toda pessoa que pertence a tal grupo social tem ou teve a mesma realidade.

Cada personagem possui um papel relevante na construção da história; alguns mais que outros, confesso. É interessante perceber que até os secundários têm destaque no enredo e não passam a sensação de estarem perdidos. Todo o amor e carinho do mundo pelo Toby e Albie (só quem for ler ou leu vai me entender). A narrativa é outra característica favorável: dinâmica, simples e instigante. Interromper a leitura é bem difícil, se é que me compreende.

Há uma crítica muito pertinente na história sobre o termo “opção sexual”. Eu tive a sensação de que o autor, a todo o momento, buscava esclarecer que o correto é “sexualidade” mesmo. Não sei, pode até ser ilusão da minha cabeça, mas tive essa impressão. E fico feliz! Sim, é preciso que as pessoas entendam de uma vez por todas que ninguém escolhe ser heterossexual, gay, lésbica etc. Não. Simplesmente são. Creio que se sexualidade fosse tópico de escolha, muitas pessoas não iriam querer pertencer a um grupo que, além de marginalizado, sofre violência a cada instante.

Eu sei que eu poderia falar muito mais sobre “Apenas Um Garoto”, mas spoilers viriam como bônus. Então não, não vou me prolongar mais. Eu só espero, do fundo meu coraçãozinho, que você busque fazer a leitura deste livro e desconstrua muita coisa da sua cabeça, de verdade. Que a história lhe proporcione tudo o que descrevi anteriormente e muito mais. E acima de tudo, que tenha um novo olhar sobre o diferente, sobre ser diferente, sobre ser você mesmo sem rotulações, discriminações. O Rafe tem muito a mostrar e ainda lhe fará refletir, sem dúvida. 


11 comentários:

  1. Olá, Leandro.
    Fiquei frustada agora pro não ter escolhido esse livro para resenhar. Eu achei que ia ser bom, mas optei por outros. Agora vou ficar querendo. São livros assim que acredito farão a diferença e um dia vão mudar o pensamento das pessoas.

    Blog Prefácio

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  2. Oi Leandro!

    Muito interessante essa reflexão sobre o termo, eu sempre me perguntei se era o mais correto. O livro parece abordar questões muito boas, fiquei interessada!!! Adorei a resenha!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  3. Nossa, muito legal esse livro hein... Fiquei super curiosa e tomara que eu tenha a oportunidade de ler..
    Adorei a sua resenha e seu blog! Já tô seguindo aqui... Abraços!

    www.lendo1bomlivro.com.br
    Instagram :) @lendo1bomlivro

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  4. Oi Leandro!
    Poxa, fiquei triste por não ter pedido esse livro à Arqueiro agora, não fazia ideia de que seria tão bom!
    Adorei sua resenha e conhecer como a história do livro se relaciona a sua. Quero muito ler!!!

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  5. Oi Leandro,
    Quase solicitei esse livro na parceria com a Arqueiro. QUASE!
    Quero ver se peço no mês que vem, porque parece uma leitura bem marcante. Vou chorar... Estou até vendo, rs.
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

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  6. Oi Leandro,
    Esse é um tipo de livro muito interessante e gosto bastante do tema abordado. Pelo que vi é um livro que trás lições de vida.
    Ele já está na lista.
    Bjs e um bom Domingo!
    Diário dos Livros
    Siga o Twitter

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  7. Eu fiz a solicitação desse livro e em breve, irei lê-lo, mas fico feliz em saber que gostou da história :)
    Parece que é clichê, mas AINDA é importante ressaltar isso na nossa sociedade não é mesmo?As pessoas são preconceituosas demais.Demais mesmo.
    Mas gostei da sua resenha.É isso que espero do livro mesmo: a verdade nua e crua.

    beeijão :)
    http://www.carolhermanas.com.br/

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  8. Olá Leandro, tudo bem ?

    Cara que resenha fantástica ainda não li algo do gênero mais tenho curiosidades as pessoas sempre falam muito bem, se tem algo que detesto e justamente o fato que você mencionou as pessoas não sabem simplesmente falar da pessoa normalmente eles precisam mencionar que pessoa e gay só pra ver sua reação, e pra mim e coisa mais normal do universo meu! Eu fico brava com isso hahahahaha são pessoas normais, eles falam como se algo surpreendente diferente de tudo que já viram ou algo estranho e pecaminoso. Eu realmente adorei sua resenha a forma como você expôs sua opinião e descreveu a estória de forma tão bela, vou anotar aqui na minha listinha :) você arrasa como sempre.

    Beijinhos

    https://resenhaatual.blogspot.com.br/

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  9. Oie Le =)

    Eu estou doida para ler esse livro *--* Tenho certeza que assim como você vou me encantar pela história, pois cá entre nós já estou apaixonada pela sinopse. Espero poder ler Apenas um Garoto o mais rápido possível!

    Adorei a resenha <3!

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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  10. Olá Lenadro.

    Gostaria muito de ler o livro, não por minha opção sexual, acredito que ela não tem nada a ver com a leitura, mas tenho alguém próximo que não se aceita, o que na minha opinião é pior do que qualquer rotulo imposto pela sociedade escarnecedora que fazemos parte. A premissa do livro é ótima e pelo visto possui um enredo envolvente, deve ser aquele livro que você quer devorar rsrs

    Beijos da Camila.
    http://cabinedeleitura1.blogspot.com.br/

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  11. Oi, Leandro!

    Que amor de resenha! Não conhecia este livro, mas quero lê-lo "para ontem". Adoro qualquer livro, texto ou o que for que desconstrua pensamentos ou argumentos preconceituosos e fechados. Se as pessoas entendessem que cada um nasce de um jeito e parassem de rotulá-lo(a) já seria um grande avanço. Gostei muito da premissa e achei o máximo o fato de o autor trazer à tona uma história mais crua e real.

    Beijocas.
    http://artesaliteraria.blogspot.com.br

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