terça-feira, 11 de abril de 2017

[RESENHA] Proibido - Tabitha Suzuma

Eu adoro dialogar sobre temas aparentemente polêmicos. Nem sempre são para mim, mas de modo geral, se eu for perguntar a algumas pessoas que circulam no centro da cidade onde moro (Caruaru, interior de Pernambuco), elas, no mínimo, farão carões e dirão coisas bem preocupantes. Mas o que você pensa quando escuta a palavra “incesto”? Meus familiares, a propósito, acham algo absurdo e ultrajante. Eu, muito pelo contrário (claramente a “diferentona” da família), considero apenas mais uma forma de amor, mais uma maneira distinta de amar, mas jamais diria que é incomum. “Proibido” foi um dos títulos mais comentados no mercado editorial brasileiro logo quando foi lançado. Não é uma história simples, ouso afirmar de antemão. Mas acho que deve ser considerada uma leitura necessária se o intuito for desconstruir e acima de tudo, respeitar as diferentes formas de amar.

Edição: 1
Editora: Valentina
ISBN: 9788565859363
Ano: 2014
Páginas: 304
Nota: (4/5)
Ela é doce, sensível e extremamente sofrida: tem dezesseis anos, mas a maturidade de uma mulher marcada pelas provações e privações da pobreza, o pulso forte e a têmpera de quem cria os irmãos menores como filhos há anos, e só uma pessoa conhece a mágoa e a abnegação que se escondem por trás de seus tristes olhos azuis. Ele é brilhante, generoso e altamente responsável: tem dezessete anos, mas a fibra e o senso de dever de um pai de família, lutando contra tudo e contra todos para mantê-la unida, e só uma pessoa conhece a grandeza e a força de caráter que se escondem por trás daqueles intensos olhos verdes. Eles são irmão e irmã. Com extrema sutileza psicológica e sensibilidade poética, cenas de inesquecível beleza visual e diálogos de porte dramatúrgico, Suzuma tece uma tapeçaria visceralmente humana, fazendo pouco a pouco aflorar dos fios simples do quotidiano um assombroso mito eterno em toda a sua riqueza, mistério e profundidade.
Maya está prestes a chegar à casa dos 17 anos, Lochan está beirando os 18. Juntos eles cuidam dos três irmãos mais novos (Kit, Willa e Tiffin), da casa, dos estudos e deles mesmos, sem apoio algum. Filhos de um pai que os deixou há tempos e de uma mãe cada dia mais alcoolista e distante, os dois lutam para manter a organização, controle, harmonia entre si e não irem parar numa instituição social do governo. As obrigações são muitas e a vida é complicada. Kit, filho do meio, busca conviver com pessoas pouco confiáveis e sempre se rebela, os menores Willa e Tiffin sofrem sem o carinho de mãe e até mesmo pela falta de atenção necessária, Maya possui obrigações de uma adulta e não consegue ser uma adolescente comum, e Lochan sofre de uma fobia social que o impede de se socializar na escola.

Há um sentimento muito mais que fraternal entre os irmãos Maya e Lochan. Algo mais profundo, complicado, intenso e resistente. É perceptível como a relação entre ambos é diferenciada, como se um fosse o porto-seguro do outro, como se existisse uma necessidade muito maior e que precisasse ser mantida, mas jamais devesse ser exposta, expressa, é inadequada, incorreta.

Mas como uma coisa errada pode parecer tão certa?

"No fim das contas, o que importa mesmo é o quanto você pode suportar, o quanto pode resistir."

Navegando pela blogosfera, pude ler diversas opiniões sobre o livro em questão, mas o que me trouxe certa esperança foi perceber que boa parte das pessoas que leram, de algum modo, desconstruíram algo após a leitura; mudaram suas percepções a respeito do incesto. Culturalmente, fomos e ainda somos instruídos a JAMAIS, EM HIPÓTESE ALGUMA, ter algum envolvimento ou relacionamento amoroso com qualquer parente consanguíneo ou que seja considerado família; é inadmissível, inaceitável, algo irrevogável, e nem deve ser incitado. Mas sentimentos não surgem deliberadamente; uma atração geralmente até surge de maneira inusitada, mas quando se trata de amor, tudo é construído, lapidado. Então, qual direito eu tenho de julgar a forma de amar do vizinho, coleguinha, de qualquer pessoa? Respondendo: direito algum.

Foi fácil me colocar na situação dos dois, embora eu nunca tenha vivido uma relação incestuosa, mas por ser gay e viver numa sociedade discriminatória e preconceituosa, foi possível me situar nos dilemas, problemas e complicações vividos por Maya e Lochan. O pior de tudo é que foi doloroso vivenciar esta história, especificamente. A cada instante, os irmãos vivem as piores dúvidas, os maiores receios e os mais dolorosos medos. Eles temem se expressar, assumir o que sentem, mas não entre si, refiro-me a dizer, afirmar abertamente o sentimento que eles partilham de maneira mútua. Chega a ser angustiante porque neste ponto da história, a autora foi muito palpável ao se aprofundar. Durante vários momentos, eu fiquei com o coração bem pequeno e apertadinho, sofrendo e temendo o pior, infelizmente.

Lochan é aquele personagem que você adoraria abraçar, acalentar e dizer que haverá uma saída. Ele carrega um peso absurdo consigo mesmo e dificilmente consegue lidar com suas inseguranças e problemas, de modo geral. O peso da responsabilidade que guarda para si é sufocante. Ele, durante muitos momentos, anula suas vontades ou o que realmente quer para fazer o que acha ser o melhor, o correto, mas não para si, e sim, para as pessoas que mais ama e preza.

Maya é tão sincera, corajosa e até forte, que por mais que eu tenha tentado ver fragilidade nela, não consegui. É incrível como, mesmo relutante, ela se permite ir além e respeita a necessidade de expressar o que sente. É aquela típica personagem que ama intensamente, mas de forma muito palpável como se quisesse me fazer acreditar, o tempo todo, que o que eu lia não era uma ficção, mas uma realidade, algo vivo.

O grande problema do livro foi a narrativa. A meu ver, a autora pecou quando foi prolixa e divagou demais em determinados capítulos; como são narrados por Maya e Lochan, mas de forma alternada, alguns momentos desnecessários se prolongaram muito e eu me senti exausto. Por mais que tenha sido necessário se aprofundar, algumas partes da história poderiam ter sido poupadas. Também senti falta de capítulos narrados pela mãe das crianças; eu quis compreender as razões que a faziam ser tão ausente; tive a sensação de que ela tinha muito a falar, embora tenha sentido muita raiva da mesma. Vai entender, né?

Como já deu para perceber, “Proibido” não é um livro simplório e talvez nem seja de fácil leitura para alguns; consegue ser doloroso e belo, simultaneamente. Mesmo se tratando de um romance, o drama familiar é muito presente em toda a história, e é possível perceber quão frágil as relações humanas conseguem ser. Portanto, se você busca uma trama diferente, com um desenvolvimento profundo e extenso, e ainda um final inusitado, a leitura é mais que recomendada. Espero que essa história ainda abra a mente de muitas pessoas e promova tolerância num sentido mais amplificado. 


8 comentários:

  1. Olá, Leandro.
    Eu li esse livro e fiquei a história toda com aquele pé atras. Mas o que desgostei na história não foi nem eles serem irmãos, mas foi que não acreditei que o que eles sentissem fosse amor. Achei mais que foi uma necessidade. Lochan estava visivelmente doente e precisando de ajuda. Mas foi um livro que gostei muito.

    Prefácio

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  2. Oi Leandro! Eu ainda não li, mas é no mínimo um livro polêmico! Eu li muitas críticas realmente divididas a respeito da obra e de fato é um assunto bem complicado. Que bom que de modo geral foi uma boa leitura para você!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  3. Oi Leandro!
    Realmente o assunto é polêmico! Para ser sincera eu nem tenho opinião formada sobre ele. Talvez o livro me ajude a formar uma.

    Beijos,
    Sora | Meu Jardim de Livros

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  4. Oie gatinho <3
    PERAI QUE EU ESTOU ROXA COM ESSA RESENHA!
    Eu não consigo me colocar no lugar dos personagens, então acredito que preciso ler este livro para conseguir entender um pouco do que se passa na cabeça deles. Sabes que eu sou super aberta as coisas, acredito que toda a forma de amor é valida, mas nunca parei para pensar em incesto hahahaa Bom, eu particularmente não sou muito "a favor" da ideia na minha vida pessoal, mas respeito quem o faz desde que haja consenso. Quero muito ler, acho que vais me fazer comprar para depois comentarmos pelo whats hahaha

    Beijos,
    paixaoliteraria.com

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  5. Oi Leandro,
    Adorei a dica e a sinceridade em suas palavras. Ah, a vibe Lannister...
    Esse livro está na minha lista de leitura, gosto muito de descobrir até onde os autores vão em seus enredos. Sou da opinião de quem critica o amor alheio é pq lhe falta =/

    P.S.: Obrigada pelo apoio lá no blog! Tenho que concordar que também fico desesperada com a organização em relação ao blog e daí, quem ajuda lá não tem esse sentimento da responsabilidade na mesma medida que eu, mas ok, vamos levando haha

    tenha um ótimo feriado =D
    Nana - Canto Cultzíneo
    Siga o novo Twitter, o @ObsessionValley será desativado em breve

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  6. Oi Leandro? Tudo bem?
    Há alguns anos quero adquirir e ler essa história, com certeza é um tema polêmico.
    Infelizmente nos seres humanos temos o hábito de apontar e julgar tudo que está a nossa volta. Mas quando passamos algo na pele ou muito próximos nossas perspectivas começam mudar.
    Ótima resenha.

    Divagando Palavras
    www.divagandopalavras.com

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  7. Oi Leandro,
    Ixi, esse livro nunca me chamou a atenção, sabe?
    A premissa é bem impactante, gera polêmica, mas sempre tive um pé atrás.
    Saber do problema de narrativa... Desanimo ainda mais.
    Beijo
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

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  8. Oie Virginiano lindo <3

    Sabe que esse livro nunca me chamou a atenção? E tipo já li tantas resenhas divergentes dele que sinceramente não ache que ele será um livro que eu vá curti a leitura.

    Fico feliz em saber que você aproveitou a leitura e que mesmo com os pequenos detalhes que te incomodaram um pouco, o resultado final foi satisfatório.

    Beijos;***
    Ane Reis | Blog My Dear Library.

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