segunda-feira, 31 de agosto de 2015

[RESENHA] Eu Te Darei o Sol - Jandy Nelson

É compreensível sentir-se receoso quando determinado livro vem sendo bastante (enfatiza o bastante, por favor) elogiado. Anos atrás, pude ter contato com a escrita da Jandy Nelson. Gostei muito, confesso. Mas ainda assim, isso não me deixava muito animado sobre o que eu poderia vir a encontrar quando lesse “Eu Te Darei o Sol”. Felizmente e com grande satisfação, este livro não só me agradou, mas também foi uma incrível surpresa e imediatamente já entrou para uma das melhores leituras do ano (e até da minha singela e curta vida). Ainda faltam-me palavras para descrever o quão maravilhado ainda estou.

Editora: Novo Conceito
ISBN: 9788581636467
Ano: 2015
Páginas: 384

Nota: (5/5 - FAVORITO )
Noah e Jude competem pela afeição dos pais, pela atenção do garoto que acabou de se mudar para o bairro e por uma vaga na melhor escola de arte da Califórnia. Mal-entendidos, ciúmes e uma perda trágica os separaram definitivamente. Trilhando caminhos distintos e vivendo no mesmo espaço, ambos lutam contra dilemas que não têm coragem de revelar a ninguém. Contado em perspectivas e tempos diferentes, EU TE DAREI O SOL é o livro mais desconcertante de Jandy Nelson. As pessoas mais próximas de nós são as que mais têm o poder de nos machucar.
A história é contada sob a perspectiva dos dois protagonistas: Noah e Jude. Ambos são irmãos gêmeos e algo os afastou. É possível, inclusive, notar que há um distanciamento entre eles na forma como a história é narrada. Quem se expressa no passado é o Noah. O presente é expresso pela Jude. E é justamente no aspecto atual da trama que o leitor nota que algo aconteceu entre os irmãos e eles não são mais os mesmos.

São filhos de pais completamente opostos. A mãe é professora de história da arte, e o pai é médico. E os irmãos também são completamente opostos e vivem uma fase bastante complicada de suas vidas no quesito ser e sentir.

Noah, quando narra, expõe toda a fragilidade que a descoberta sobre si mesmo acarreta. Ele é um jovem aparentemente comum (mas só aparentemente mesmo). Aos treze anos, possui um mundo de personalidades dentro de si. Sua cabeça é uma elaborada e confusa obra de arte onde nada é meramente irrelevante e tudo surge da forma mais improvável e ingênua possível.

Jude, aos dezesseis anos e expressando-se no momento atual, demonstra um arrependimento incomum. Sem esquecer, claro, quão madura e compreensiva consegue ser em uma idade tão tenra. Ela é apenas uma adolescente que busca a atenção do seu irmão da maneira mais sutil possível. É como se, a cada momento em que busca algum conforto, percebesse que os erros cometidos não partiram apenas de si mesma, mas que as circunstâncias também foram bastante proeminentes no contexto em que se encontrava. Nada parece simples e ela não desiste facilmente.
"Talvez uma pessoa seja feita de várias pessoas.Talvez estejamos acumulando novas personalidades o tempo todo. Carregando-as ao fazermos nossas escolhas, boas e más, enquanto erramos, organizamos, perdemos a cabeça, encontramos nossa cabeça, desabamos, nos apaixonamos, sofremos, crescemos, nos retiramos do mundo, mergulhamos no mundo ao criarmos coisas e destruirmos coisas."
Nada do que eu diga a respeito desta história será suficientemente esclarecedor. NADA. Escrever sobre duas personagens tão palpáveis e verossímeis é algo bastante desafiador para um escritor, a meu ver. A Jandy Nelson não mediu esforços e se mostrou muito talentosa e incrivelmente coerente (para não dizer complexa assim como todo e qualquer ser humano) ao criar Jude e Noah. São protagonistas tão memoráveis que será impossível (sim, totalmente impossível) esquecê-los. Principalmente o Noah.

Noah é aquele protagonista que você quer abraçar e cuidar, dizer o quão especial ele é e que está seguro, de alguma forma. Toda a questão da descoberta abordada nesta história foi muito bem aprofundada e não deixou em nada a desejar. E isso não só aconteceu ao Noah, mas é possível compreender, de alguma forma, cada personagem apresentada durante a leitura. Detive-me em Noah porque a maneira como ele descobre ser gay e todos os conflitos internos pelos quais passa, foram e continuam sendo verossímeis. Não pense, por algum momento, que isso só acontece na ficção. Não mesmo. Há muitos jovens agora, neste exato momento em que você lê esta resenha, vivendo os mesmos dramas e conflitos pelo qual ele passou. E o pior é saber que nem todos conseguem superar tudo isso e crescer. Há muito mais fins amargos do que bons desfechos.

Jude conseguiu, ao longo da leitura, mostrar-se uma personagem memorável também. De início, confesso que não consegui afeiçoar-me a ela. Motivos? Ela conseguia ser bastante fria quando queria. Porém, quando parei e a analisei atentamente, pude não só compreendê-la como também sentir empatia. Há muito mais coisas a respeito de alguém para buscar explicá-la por meio de suas atitudes. Isso ficou bastante claro, neste livro em especial, porque o ser humano é composto por erros. Somos seres errantes. Basicamente vivemos para errar e aprender em seguida com as consequências. Logo, para mim, foi possível não julgá-la por suas atitudes e esperar que o rumo que ela escolheria fosse muito bom.

A narrativa é outra característica bastante interessante neste livro. Todo o desenvolvimento acontece de forma lenta e gradual. De início, a leitura não foi empolgante e por vezes bastante minimalista; falo minimalista no sentido de que a autora deteve-se em sempre esclarecer os sentimentos das personagens, trazendo toda uma atmosfera real e conflituosa para o leitor (neste caso, eu) situar-se nas questões pessoais de Noah e Jude. E admito que foi bastante satisfatório experienciar tudo isso. Mesmo apresentando sentimentos complexos, nada soa incoerente. Acho que colocar-se no lugar do outro é uma expressão que muito bem se aplica ao ler este livro.

Há muito mais a ser dito sobre “Eu te darei o Sol”. Muito mesmo. Muitas coisas acontecem ao passo que o enredo é desenvolvido de forma maravilhosamente satisfatória até culminar em um final belo, singelo e lindo, muito lindo. Este livro foi além das minhas expectativas. É uma história sobre amor, perdão e esperança; é uma história sobre perdoar a si mesmo para poder fazer e dar o seu melhor, sobre o quão incrível, incoerente e cruel pode ser o amor e o ato de amar em sua mais pura essência. Se você busca uma leitura completa e tocante, não hesite quanto a ler este livro. Não irá se arrepender.


 RECOMENDO!



12 comentários:

  1. Olá, Leandro.
    Confesso que diferente de você comecei a leitura deste livro com expectativas altas. Mas assim como você, me vi fascinado por toda a história. O livro realmente veio a mudar minha percepção sobre muito coisa, Noah se tornou um dos meus personagens favoritos por suas ações no decorrer da leitura.
    Eu também me vejo sem palavras para definir o quanto gostei do livro, espero ter a oportunidade de ler outros da autora.
    Até mais. http://realidadecaotica.blogspot.com.br/

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  2. Olá,
    Tenho uma vontade especial de ler esse livro, acho a premissa dele ótima e ele parece ser lindo de se ler (apesar de eu ter gostado muito pouco dessa capa).
    Beijos.
    Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com

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  3. Parabéns pela resenha Lê! Já li Eu Te Darei o Sol e amei! Abraço!

    www.newsnessa.com

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  4. O livro realmente parece ser bom. As resenhas que eu li anteriormente foram negativas, mas como cada um interpreta as palavras de uma forma, terei de ler para descobrir o que eu penso da história.
    Gostei muito do post; muito bem escrito e direto.

    Beijos,
    Bi.

    - www.naogostodeunicornios.com

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  5. Olá, Lenadro.
    Eu também fico receosa de ler quando elogiam muito um livro hehe. Mas esse eu amei. Não tem como não se encantar pelos personagens. Comigo aconteceu igual a você. No começo não gostei muito dela, mas depois eu me afeiçoei hehe. E gostei bastante do final também.

    Blog Prefácio

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  6. Oi, Leandro! :)

    Todos estão falando tão bem deste livro! Minha curiosidade só aumenta, apesar do receio que você mesmo mencionou.
    Qualquer receio (ou enrolação mesmo) que tive desapareceu ao ler sua resenha. Fiquei tocada pelo modo como descreveu as personagens e seus dilemas - que são tão atuais e parece que a autora soube aborda-los com maestria.
    Quero este livro para ontem! E espero gostar tanto quanto você.

    Beijocas.
    http://artesaliteraria.blogspot.com.br

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  7. Oi, Leandro! Tudo bem? Nossa, você já é a 3839494882773 pessoa que favorita "Eu Te Darei O Sol"! Isso só significa que o livro é EXCELENTE e que eu PRECISO LÊ-LO O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL! Parabéns pela resenha, cara! Ela ficou incrível! :)

    Abraço

    http://tonylucasblog.blogspot.com.br/2015/08/resenha-premiada-johnny-bleas-um-novo.html <- Tá rolando promoção do livro "Johnny Bleas - Um Novo Mundo" lá no blog! ;)

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  8. Oie Le =)

    Eu gostei bastante desse livro, mas do que eu esperava para falar a verdade. O Noah foi o personagem que me conquistou logo nos primeiros capítulos, enquanto a Jude me fez amar e odiar ela ao mesmo tempo rs...

    Sua resenha ficou linda, assim como a história que a Jandy Nelson nos apresenta aqui <3!

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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  9. Oii!
    Adorei sua resenha. Eu já li outro livro dessa autora e gostei muito.
    Tenho muita, muita vontade de ler esse.

    Abraço
    mundoemcartas.blogspot.com.br

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  10. Lê,

    Quero muito ler esse livro, sua resenha foi maravilhosa... Pra variar!
    Mas como não tenho ele aqui em casa, no momento não posso comprar mais NADA. Rs


    Beijos!

    Cintia
    http://www.theniceage.blogspot.com.br/

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  11. Oii Lê, tudo bem??
    Amei a resenha, ficou maravilhosa, muito bem escrita e crítica, parabéns!
    Eu já tinha curiosidade em ler este livro, mas com a sua resenha eu posso dier que PRECISO ler esse livro! rsrsrs
    Bjoos

    http://soujovemliterario.blogspot.com.br/

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  12. Olá Leandro, tudo bom?

    Também as vezes fico receoso com alguns livros que são super badalados e esse é um deles, mas fico feliz que pela sua resenha a qualidade da obra seja boa, espero ler em breve...abraço.

    devoradordeletras.blogspot.com.br

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