sexta-feira, 10 de março de 2017

[RESENHA] Confissões de Inverno - Brendan Kiely

Eu sempre nutri certa curiosidade por "Confissões de Inverno" desde o seu lançamento, mas não era nada desesperador a ponto de me fazer comprá-lo o quanto antes. A ânsia por conhecer a história do Aidan, protagonista do livro, só realmente apareceu com força total no início deste ano, após ler algumas resenhas. Fiz a solicitação à editora, recebi (obrigado, editora Arqueiro, amo vocês ), li e ainda estou surpreso com a intensidade em que diversos sentimentos da história me atingiram, de modo que nada soa como uma ficção qualquer. Longe disso! É tudo tão palpável que, durante muitos momentos, indaguei o seguinte: "Isso realmente não aconteceu?"

Edição: 1
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580414639
Ano: 2015
Páginas: 224

Nota: (4,5/5)
À medida que sua família se desintegra, Aidan Donovan, um adolescente de 16 anos, procura consolo em estimulantes químicos, no estoque de bebidas do pai e nas atenções do padre Greg, o único adulto que realmente o escuta.O Natal chega e seu mundo entra em colapso quando ele reconhece o lado obscuro do afeto que o padre Greg lhe dedica. Enquanto tenta dar sentido à própria vida, Aidan conta com o apoio de um grupo de amigos desajustados: Josie, a garota por quem se apaixona; a rebelde e espontânea Sophie; e Mark, o carismático capitão da equipe de natação. Confissões de inverno mostra as formas pelas quais o amor pode ser usado como uma arma contra a inocência – mas também pode, nas mãos certas, restaurar a esperança e até a fé. O corajoso romance de estreia de Brendan Kiely expõe o mal que os segredos mais profundos que guardamos podem causar e prova que a verdade liberta e abre caminho para o amor.
A história se inicia com Aidan Donovan se drogando (esmagando e cheirando Adderall, um forte calmante) durante mais uma festa dada por sua mãe, Gwen. O jovem vai se destruindo aos poucos desde que o seu pai, chamado de Velho Donovan, foi embora de casa para viver com outra mulher, na Europa. Além do AdderallAidan bebe e encontra consolo no Padre Greg, sacerdote da igreja Preciosíssimo Sangue de Cristo, paróquia da região. Porém, durante o Natal, ele descobre as verdadeiras intenções do tal padre, e não são nada boas, não mesmo!

A família vai se destruindo aos poucos e Aidan encontra consolo em três amigos de escola: Mark, jovem que vive pressionado por seu pai; Sophie, uma garota rebelde, e Josie, a menina por quem o protagonista nutre um sentimento. Com situações bastante adversas, inusitadas e até dolorosas, a história vai se desdobrando num clima melancólico e frio, e fazendo o leitor aproximar-se cada vez de cada personagem a fim de compreender inteiramente tudo o que acontece.

"Naquela época acreditei nele porque queria acreditar, mas olhando para a folha em branco durante a aula do sr. Weinstein, pensei em como de fato se inicia uma crença. Não é que ela atinja o sujeito feito um raio, derruba-o do cavalo e pinta seu mundo com cores mais vivas. Na verdade, tudo começa com o desejo de enxergar alguma coisa sob certo prisma ou de ver o mundo por outro ângulo. É o desejo que prepara o terreno. Faz a gente acreditar que as nuvens estão se abrindo - e se abrindo exclusivamente para nós." 
É um livro curto, mas que não necessariamente você conseguirá lê-lo de uma vez só e sentir-se confortável. Talvez até consiga tal feito, é uma possibilidade, mas me fará indagar se realmente sentiu o que eu senti. Aqui não temos uma história simples. Por mais que a estrutura da mesma se mostre assim, até porque não temos um grande núcleo de personagens e nem um aprofundamento preciso sobre cada um porque tudo é narrado sob o ponto de vista do protagonista, as situações apresentadas possuem certa complexidade e vão além de uma mera compreensão. Não é fácil entender o ser humano e tudo o que ele demonstra sentir, e isso fica bem claro nas atitudes de cada personagem que esteja vivendo os mais variados conflitos internos na história. E isso não inclui apenas o protagonista. 

É muito doloroso acompanhar o Aidan. Ele não é um protagonista comum. Por mais que pareça frágil em muitos momentos, possui uma força e uma coragem incomum, distinta. É difícil se colocar no lugar dele. Muito. E por várias razões. Ele é adolescente e se sente perdido, completamente confuso e solitário. Nem mesmo seu pai conseguia se importar com ele. Até a relação com a mãe é um pouco difícil e até frágil demais para progredir em algum momento. E invariavelmente vivemos numa sociedade completamente discriminatória, onde até mesmo uma mãe solteira torna-se vítima de comentários maldosos e carregados de julgamento e rejeição. Logo, nem mesmo Gwen e Aidan consegue ser imunes a isso. Complicado, né?

A história demonstra de forma muito clara todas as incongruências das relações vivenciadas pela sociedade, vivenciadas por mim, e por você que está lendo essa resenha. O autor consegue ainda ser sutil ao buscar expor os problemas e violações diversas que muitas pessoas são submetidas dia após dia. Por se tratar de um livro onde há personagens jovens, incluindo o protagonista, é impossível não perceber os conflitos de identidade, aceitação e até mesmo a busca pela fé em si mesmo quando tudo parece perdido, desnorteado, sem motivação alguma. Por isso tudo aqui, nesta trama, é tão delicado, tão difícil e até doloroso. E o pior é perceber que, em muitos momentos, silenciar-se pode ser fatal, a última deixa, o ato final de quem já não tem mais razões para opor-se ao que agride sem pesar algum. 

Kiely, o autor, foi brilhante na construção de seu personagem principal porque nada soa ficcional. É tudo tão palpável que eu quis, durante toda a leitura, entrar na história e confortar cada personagem em sofrimento. Buscar o seu lugar no mundo é uma tarefa angustiante, desgastante e ainda pode vir a ser frustrante, e por diversas razões. Isso é abordado de forma sutil na história, mas ainda assim consegue passar veracidade sem soar forçado, principalmente por se tratar de um drama. Eu só esperei que o autor se aprofundasse mais no Padre Greg de forma realmente intrínseca, sem pudores ou limitações. Mas isso não aconteceu, infelizmente. E outra: eu queria mais algumas páginas no final. Eu senti que o autor poderia ter ido um pouquinho mais além para trazer um desfecho mais contundente, interessante. Caso essas duas lacunas tivessem sido preenchidas, este livro iria direto para a lista de favoritos.

Para concluir, "Confissões de Inverno" é um livro maravilhoso. Não é uma leitura fácil porque aborda abuso sexual como tema central e isso nunca é confortável. De início, pode até parecer exaustiva, mas isso muda completamente conforme o avançar das páginas. A escrita do Kiely consegue ser precisa e emotiva na medida certa e eu realmente amei. Inclusive, este é o livro de estréia do autor. (Quero mais histórias escritas por ele o quanto antes!) Se você adora um bom drama, corra e agilize a leitura. Sem dúvida vai mexer com você e de forma inusitada, por vezes. 


6 comentários:

  1. Oi Leandro,
    Seria uma leitura beeeeem impactante para mim.
    Sinto que choraria a maior parte do tempo. Mas acho super válido abordar assuntos relevantes desse tipo para a sociedade.
    Afinal, é a realidade de muitas pessoas e podemos ajudá-las de alguma maneira.
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br

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  2. Olá, Leandro.
    Eu ganhei esse livro em um top comentarista o ano passado e até agora não peguei para ler. Quando li as resenhas e vi o quanto ele vai mexer comigo e como não estou preparada no momento, eu deixei ele lá guardadinho até ser o momento certo de ler. Adoro livros assim que mexem tanto com a gente.

    Prefácio

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  3. Olá, Leandro! Tudo bem?
    Desde que a Arqueiro anunciou o lançamento deste livro, fiquei bastante curioso pela obra. Mas infelizmente ainda não tive a oportunidade de lê-lo. Imagino que não se trata de um livro fácil, afinal, aborda um tema bem forte e impactante, mas fico feliz que a autora tenha trazido isso de forma clara e simples. E, acredito que muitas vezes uma escrita mais simples e clara para um tema complexo como este, seja uma escolha muito inteligente, pois pode alcançar inúmeros leitores, passando a mensagem para uma massa muito maior.

    Até mais. https://realidadecaotica.blogspot.com.br

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  4. Oi Leandro! Lendo o título do livro eu não esperava uma sinopse tão densa. Não parece ser mesmo um livro fácil, parece ser daqueles que a gente vai digerindo bem aos poucos. Gostei da indicação, é uma obra que vai me fazer sair da zona de conforto.

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  5. Parece ser uma história bem pesada. Primeira resenha que leio sobre, não me lembrou nenhuma leitura recente que eu tenha feito QUERO!

    http://obaucultural.blogspot.com.br/

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  6. Oie Virginiano lindo <3!

    Confesso que pela capa esse livro passou batido por mim, e até o momento não tinha lido nenhuma resenha dele. Porém depois de ler a sua e me deparar com uma premissa tão cheia de drama e de certo modo superação fiquei morrendo de vontade de ler.

    Adoro livros que são verdadeiros, que nos mostram o lado bom e ruim da vida e das pessoas. E esse parece uma belo caso de como o autor usou a própria vida como protagonista de uma boa história.

    Beijos;***
    Ane Reis | Blog My Dear Library.

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