quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

[RESENHA] Passarinho - Crystal Chan

Eu juro que não esperava que este livro fosse me surpreender tanto. Quando o comprei, foi puramente um ato de compulsividade mesmo, estava custando apenas R$ 9,90. Após ler a sinopse e ter admirado a capa durante alguns poucos minutos, decidi levá-lo para casa. A leitura só veio acontecer certo tempo depois, e numa segunda tentativa. Quando tentei lê-lo pela primeira vez, estava vivendo uma ressaca literária horrível e claramente não aconteceu. Mas como sou brasileiro, tentei outra vez e tudo fluiu perfeitamente, melhor do que o esperado. Eu não imaginei que me apegaria tanto a dois protagonistas tão jovens e humanos, e acima de tudo, não esperava que ficaria sofrendo por não poder entrar na história e acalentar o coração de Joia. 

Edição: 1
Editora: Intrínseca

ISBN: 9788580575354

Ano: 2014

Páginas: 224
Nota: (5/5 - FAVORITO )
O avô de Joia parou de falar no dia em que matou o irmão dela. O menino se chamava John, e achava que tinha asas. Subia e saltava do alto de qualquer coisa, até ganhar do avô o apelido de Passarinho. Joia não teve a chance de conhecê-lo, pois Passarinho se jogou do penhasco bem no dia em que ela nasceu. Ainda assim, por muito tempo ela viveu à sombra de suas asas. Agora, aos doze anos, Joia mora em uma casa tomada por silêncio e segredos. Os pais culpam o avô pela tragédia do passado, atribuem a ele a má sorte da família. Joia tem certeza de que nunca será tão amada quanto o irmão, até que ela conhece um garoto misterioso no alto de uma árvore. Um garoto que também se chama John. O avô está convencido de que esse novo amigo é um duppy — um espírito maldoso —, mas Joia sabe que isso não é verdade. E talvez em John esteja a chave para quebrar a maldição que recaiu sobre sua família desde que Passarinho morreu. 
Joia é uma garotinha de apenas doze anos, mas que já lidou com uma perda incomensurável. No dia em que nasceu, seu irmão, John, pulou de um penhasco e morreu. Por achar que era um passarinho (apelido dado por seu avô e que acabou culminando em tal fatalidade), ele se jogou na maior ingenuidade possível. Muito triste, né? Pois bem, após isso, a família não conseguiu ser a mesma. O avô não fala mais, os pais vivem numa constante omissão de fatos que só deixam Joia cada vez mais inquieta, insegura e até frustrada. Mas a vida da pequena protagonista muda com a chegada de um novo vizinho chamado John (sim, o mesmo nome do seu irmão). A partir disso, surge uma amizade inigualável e até inimaginável, mas que mudará a vida de todos que os cercam. 

"[...] acho que as pessoas podem ter mais de uma camada, assim como a terra, estratos diferentes empilhados um sobre o outro. Se você cavar, pode descobrir outra camada em alguém. E às vezes essas camadas podem ser surpreendentes."
Pág.: 179

Por mais que este livro apresente uma história aparentemente simples, tudo o que a compõe é muito delicado e até complicado. Aqui, temos uma família completamente abalada após uma perda inesperada e que, dia após dia, tenta lidar com a ausência e com a dor advinda disso, mas é em vão, nada é pacífico. Por vezes, é possível perceber que até a pequena Joia parece viver numa constante hesitação, claramente receosa em decepcionar qualquer um dos seus familiares, e ainda aparenta viver numa frequente omissão de si mesma quando não pode e nem consegue ser uma criança comum, livre de problemas tão maduros para a sua idade. Devido a isso, é possível notar uma protagonista infantil, mas com atitudes que não correspondem à sua idade, em alguns momentos. Eu pude perceber que ela precisou amadurecer mais cedo, até mesmo como uma forma de defesa para não sofrer tanto. Mas nem por isso é possível afirmar que a ingenuidade e a inocência desapareceram da sua personalidade após tais necessidades tão difíceis. Muito pelo contrário. Ainda vivem ali, estão presentes, invariavelmente. Ela ainda se mostra uma criança linda, forte e encantadora durante boa parte da história, e claramente conseguiu me cativar desde o início.  

Eu não poderia, de forma alguma, deixar de mencionar quão inteligente, caricato e fofo o John consegue ser! Imagine uma criança comum, mas que apenas um/uma bom/boa escritor/escritora conseguiria construir e desenvolver, passando assim, a sensação de conhecê-la, e até mesmo de já ter convivido. Pronto. Pude me sentir assim o tempo todo. Durante muitos momentos, eu quis entrar na história e viver cada uma das aventuras e das conversas que John e Joia compartilharam entre si. Os pensamentos da protagonistas, por mais simplistas que tenham parecido em alguns momentos, conseguiram mexer comigo de forma inimaginável. Foi como se ela estivesse conversando comigo, indireta e invariavelmente, mas sem parecer algo proposital, como se não quisesse ser um manual de auto-ajuda. É possível sentir todo aquele clima agridoce, simples e espontâneo da infância em cada página deste livro. 

A narrativa acontece sob o ponto de vista de Joia. Eu realmente quis, durante alguns momentos, saber o que se passava na cabeça da mãe dela. Não quero dizer que senti-me insatisfeito. Não mesmo. Mesmo vivendo tudo através do olhar de uma criança, foi possível conhecer e até ter uma ideia do que estava acontecendo na história, de modo geral. Mas como sou exigente e até um pouco chato (levemente chato, diria), confesso que torci para que a autora me desse a oportunidade de compreender melhor e mais inteiramente a mãe da pequena e adorável Joia. Várias deduções passaram pela minha cabeça após observar determinadas atitudes, mas eu não queria ser precipitado ou equivocado. O jeito foi me abster de tal vontade e focar no que estava mais óbvio a meus olhos.


Uma história sobre perda, dor e amizade, mas que também fala sobre se permitir novamente e ser quem realmente você é, e não aquilo que esperam; é também sobre o poder da interpretação, sobre como re-significamos nossas vidas em prol de algo ou alguém, até mesmo como uma defesa para lidar com os problemas futuros, dos quais ninguém tem noção; sobre a influência que exercemos na vida de qualquer pessoa com quem nos relacionamos, e a importância de sempre retribuir e compartilhar com o seu melhor. 

Em suma, foi realmente difícil expressar tudo o que esta singela e singular leitura me proporcionou. Por mais que eu tente me prolongar, ainda não conseguiria demonstrar meus sentimentos com exatidão. Apenas peço-lhe para ler "Passarinho" com o coração aberto, sem grandes expectativas, mas apenas tendo em mente que fará uma leitura interessante, delicada e linda, e que certamente mexerá com você. Há inúmeras passagens que estão devidamente marcadas com post-it no meu exemplar, e falo isso só para demonstrar que este livro tem tudo para comover até os corações mais duros e difíceis. Sejamos, todos nós, pequenas estrelas binárias. Não sabe do que estou falando? Então agilize e leia o livro de estreia da Crystal Chan. Ela tem muito a lhe dizer através de personagens memoráveis e completamente humanos. 




11 comentários:

  1. Oi Leandro! A capa é linda e o preço foi ótimo! Joia e John parecem ser ótimos personagens, a resenha realmente ativou a minha curiosidade! Ficou excelente, parabéns!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  2. Oie Virginiano lindo <3!
    Achou seu celular?

    Sempre leio resenhas super bonitas desse livro, mas ainda não tive oportunidade de ler ele. Mas depois da sua resenha fiquei ainda mais curiosa para conhecer essa história que parece ser tão cativante!

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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    Respostas
    1. Não, nem sinal, infelizmente. </3
      E leia o livro, sim! É lindo. *-*
      Obrigado!

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  3. Oi Leo,
    E eu que não acho uma promo dessa!
    Que capa linda, acho que a primeira resenha que leio sobre esse livro e assim, conheci melhor. Não sei é certo sentir algo negativo em relação ao avô, creio que só lendo pra saber e fiquei super curiosa em relação à mãe. Já separando a caixa de Kleenex.

    tenha uma ótima quinta :D
    Nana - Obsession Valley

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  4. Olá, Leandro.
    Eu amei esse livro e me emocionei muito com ele. São livros assim que me fazem não gostar de narração em primeira pessoa por somente um dos personagens. Assim como você eu queria muito saber o que se passava na cabeça, não só da mãe, mas do resto da família também. Que bom que gostou. Fico feliz quando vejo que alguém gosta de um livro que eu também gostei hehe.

    Prefácio

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  5. Olá, Leo!
    Uau que resenha maravilhosa!
    O preço realmente estava ótimo e a capa é a linda. A história parece ser muito emocionante!
    Beijos,
    teattimee.blogspot.com.br

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  6. Sua resenha ficou muito boa!! Já tinha visto resenha sobre esse livro antes, mas só agora pude compreender o quão sensível ele é. A perda de Joia e de sua família é muito tocante, principalmente por ter sido tão inesperado. Espero muito que no final eles tenham conseguido superar o incidente.

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

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  7. Oi Leandro, não conhecia esse livro, muito bom quando um livro nos surpreende assim.
    Ótima dica!
    Abraços.

    Divagando Palavras
    www.divagandopalavras.com

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  8. Oi Leandro,

    Eu acho incrível quando a gente compra um livro por um preço bacana e se surpreende com a estória depois! Nesses momentos, a compulsividade é uma maravilha! Pelo jeito o livro é bastante especial, espero ter a oportunidade de ler também, por um preço acessível como o que você pagou! haha
    Como sempre, parabéns pela resenha!!

    Abraços,

    Maritza Bom
    www.prologodaleitura.wordpress.com

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  9. Olá, Leandro. Tudo bem?

    Caramba, que resenha linda! Acho que essa foi uma das suas que mais mexeu comigo. Já tinha conhecimento de Passarinho e até havia pensado em comprar, mas na época que me interessei estava muito caro. Ao lê sua resenha, o que posso dizer? Quero muito conhecer a história triste da Joia, saber se aprendeu a lidar com a perda do irmão e também conhecer o vizinho que rapidamente se torna amigo dela. Enfim, fiquei curioso por toda a história, e embora tenha dito para lermos sem muitas expectativas, é meio impossível fazer isso após uma resenha tão linda como esta.

    Até mais. https://realidadecaotica.blogspot.com.br/

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  10. Oi Leandro,
    Você é a segunda pessoa que me recomenda esse livro.
    Fiquei muito interessada pela premissa e pelo fato de ter vários elogios a obra.
    E não é caro! Provavelmente, eu vou chorar, rs.
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

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